terça-feira, 14 de junho de 2011

Devastação da Mata Atlântica no município de Paulista

Pesquisadores previram, 9 anos atrás, devastação em Paulista



O corte paulatino do que resta de Mata Atlântica no terreno de cemitério em Paulista, no Grande Recife, é previsto desde 2002, quando começaram as obras. A instalação do empreendimento, assim como os sucessivos desmatamentos, é bom lembrar, têm o aval da CPRH. Recentemente, a agência ambiental e a direção do cemitério assinaram termo em que a empresa se compromete a repor 3 hectares. Detalhe: o local é uma estação de tratamento de esgoto da Compesa em Paulista que não tem cerca nem portões. E ainda alberga o gado da vizinhança.
Leia mais aqui sobre o assunto. Abaixo, veja matérias de arquivo que anunciavam a morte da floresta.
"Fiscais aprovam obra de cemitério"
Publicado no Jornal do Commercio, em 3.4.2002.
Embora botânicos da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA) tenham constatado desmatamento nas obras de um cemitério em Paulista, fiscais da CPRH e do Ibama que estiveram ontem no local afirmam ter havido apenas uma “limpeza do terreno”.
“A obra está de acordo com o que foi licenciado”, garantiu o engenheiro agrônomo Carlos Ribeiro Filho, da gerência de Desenvolvimento Florestal da CPRH. Ele disse que o terreno tem 15,4 hectares. Os 6,52 correspondentes à vegetação serão preservados pela Serpos Serviços Póstumos Ltda., a empresa responsável pelo empreendimento.
O projeto prevê a construção de velório, estacionamento, praça e jazigos no topo do morro, no Km 13,5 da PE-15, na Cidade Tabajara. O cemitério, também licenciado pela Prefeitura de Paulista, é do tipo parque, com dois mil jazigos. O fiscal do Ibama Alberto Rodrigues dos Santos disse que a empresa estava autorizada pelo instituto a retirar a vegetação da área plana, a título de limpeza de terreno. “Ocupar as encostas, no entanto, não será permitido”, adianta.
Para a botânica do IPA Valdelice Correia Lima, que visitou a área anteontem, a ocupação das encostas será inevitável a longo prazo. “O cemitério precisa se expandir. Se no topo do morro, que não tem vegetação, será construído o velório, é claro que os jazigos vão ocupar as encostas, onde está localizada a mata de restinga.”
O biólogo Alberto da Rocha Silva, da Associação Ecológica de Pernambuco (Ecos), garante que a área desmatada é de restinga, vegetação associada de mata atlântica protegida pelo Decreto Federal 750/1993. Ele também visitou a obra e disse que, por estar junto à encosta, a vegetação retirada é um prolongamento da restinga.
Na opinião do biólogo, a obra deveria ter Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) porque envolve corte de restinga em área de preservação permanente (encostas com mais de 30 graus de inclinação).
Abaixo fotos de Clemilson Campos/JC Imagem, 8.06.2011, que comprovam o prognóstico dos cientístas.


"Iphan embarga obra de cemitério"
Publicado no Jornal do Commercio, em 16.4.2002
A obra de um cemitério particular em Paulista, no Grande Recife, está paralisada por determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O embargo, realizado na sexta-feira passada, baseou-se na existência do um sítio arqueológico descoberto pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no local.
Hoje, às 8h30, arqueólogos da UFPE e os responsáveis pela obra têm um reunião marcada para definir o cronograma e o local das escavações. O encontro será no canteiro de obras, no Km 13,5 da rodovia PE–15, na Cidade Tabajara, em Paulista. O arqueólogo Plínio Victor estima que a pesquisa deve se estender por um mês. “Será um trabalho de salvamento, uma vez que a obra foi iniciada e precisa continuar”, justifica o arqueólogo.
O pesquisador esclarece que o sítio arqueológico é o único registro da ocupação indígena na Região Metropolitana do Recife. A estimativa é que a ocupação seja superior a mil anos. A equipe, coordenada pela arqueóloga da UFPE Gabriela Martin, espera ainda encontrar vestígios de ocupação indígena da chamada proto-história, quando os indígenas mantiveram contato com os colonizadores.
Localizado no topo de um morro, o sítio arqueológico foi descoberto ano passado por moradores do local, que acharam uma panela de argila cozida num campo de futebol existente na área onde será construído o velório. A UFPE recebeu o material e realizou prospecção no local, quando foi coletado cerca de mil fragmentos de cerâmica e pedra lascada.
A equipe não encontrou, no entanto, pedaços de peças em ferro, que marcam a proto-história, mas achou fragmentos de louça nas encostas. “Por isso, esperamos detectar algum registro da arqueologia de contato, como também é chamada a proto-história”, diz o arqueólogo Plínio Victor. Ele não sabe precisar que tribos ocuparam o terrenos, mas entre as citadas nos registros etnográficos dos tupis estão os caetés e tabajaras.
O material pré-histórico encontrado até agora, de acordo com o pesquisador, está dentro do padrão tupi, grupo indígena que ocupava a região litorânea. A ocupação do topo do morro também é uma característica de assentamento atribuída a esses povos indígenas. Do morro, coberto de mata atlântica, eles viam a restinga, s manguezais e o mar.
EMBARGO – O superintendente do Iphan em Pernambuco, Múcio Aguiar Neto, explica que a empresa Serpos Serviços Póstumos Ltda, responsável pelo cemitério, tem até sexta-feira para apresentar o projeto ao instituto. A notificação extra-judicial determina ainda o comparecimento do representante do empreendimento ao Iphan, até amanhã, para informar as medidas que estão sendo tomadas em relação à regularização da obra.
O embargo se baseou no Decreto Federal nº 25 e na Lei Federal 3.924, que proíbem a destruição de bens culturais da União e obrigam a comunicação imediata ao Iphan de qualquer descoberta arqueológica. “O proprietário também está passível de sofrer ação penal, caso não apresente o projeto ao Iphan e não cumpra o embargo”, explica Aguiar.

Fonte: Blog Ciência e Meio Ambiente.

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